Dia de Finados Dia de Memória Agradecida!

  

 

Meu Deus, que no Teu Reino

Quem parte antes de mim

Encontre a paz na Tua eternidade

E bondade sem fim.

E para quem fica,

Que não falte o conforto

De saber que um dia

Nos Teus braços há de se encontrar.

Que hoje nossos corações

Se encham de amor e alegria

Ao recordar aqueles que já partiram,

Mas que pela Tua glória

Continuam vivendo.

Pois quem em Ti acredita, Senhor,

Jamais morre! Amém!

                               

Finados: morrer é dizer “sim” à eternidade (02/11/2022)    Pe. Adroaldo Palaoro, SJ

 

“Que vossos rins estejam cingidos e as vossas lâmpadas acesas” (Lc 12,35)

morte, sempre estranha e, com frequência, incômoda; e no mundo ocidental ela fica escondida em locais funerários, afastada do ambiente familiar. Sem cair em extremismos, este fenômeno diz respeito a um dos problemas que temos como cultura: falar da morte nos dá medo, mesmo sabendo que é uma das poucas certezas que temos. Preferimos ridicularizá-la, negá-la ou silenciar, antes que reconhecer que é uma dimensão de nossa vida que não podemos ignorar. E é questão de tempo, sempre termina por chegar, em ocasiões de uma maneira inesperada: tantas vidas ceifadas, tantas mortes prematuras, tantas histórias truncadas em muitos lugares de nosso mundo.

São mães, pais, maridos, mulheres, irmãos, filhos, amigos, avós, vizinhos, companheiros de trabalho, de comunidade…; tantos que faleceram por diferentes causas e que estão presentes em nossa memória, na lista de ausências. A morte traz dor pela ausência, saudades pelos momentos que se foram, desejo por um presente no qual não estão. Na fé, que ajuda a trazer um horizonte de sentido, a memória dos que partiram desperta também uma profunda gratidão pelas vidas daqueles(as) que amamos, pelas “marcas” que deixaram em nossas vidas, pelas presenças inspiradoras que despertam uma serena consolação, pela esperança de que, um dia, de outro modo, voltaremos a nos encontrar e não haverá mais tristeza, nem pranto, nem dor… Eles e elas, na vida foram, aos poucos, nascendo e nascendo até acabar de “nascer” em Deus.

A vida se transforma no coração da Vida, em Deus. Então, vale a pena, no dia de hoje, ativar a “memória agradecida”.

Neste Dia de Finados, passarão por nosso coração e pela nossa memória, de um modo muito especial e íntimo, aquelas pessoas que foram e são parte de nossa vida e que, ao fazerem a “travessia” para outra margem continuam presentes, amando-nos e sendo amadas por nós. Precisamos parar um momento e acender uma vela por dentro, e escutar. Escutar os ecos que suas presenças nos deixaram, suas palavras, seus gestos… Quê palavras, olhares, gestos não quero esquecer das pessoas de minha vida que já não estão mais aqui? Segundo Guimarães Rosa, as pessoas não morrem, ficam encantadas no nosso coração e na nossa memória.

Finados é um “dia memorial”: memória agradecida que não nos fixa na saudade do passado, mas, nos instiga a prolongar na nossa vida o modo original de viver de tantas pessoas que agora estão “no coração de Deus”. Este é o objetivo dos ritos de finados: ajudar-nos a processar a vida, a morte, a dor, a alegria…, carregados de oração e emoção que move nosso interior à contemplação.     Para continuar o texto inteiro:   

 https://centroloyola.com.br/finados-morrer-e-dizer-sim-a-eternidade-02-11-2022.html

 

 

 

Santa Teresinha do Menino Jesus Espiritualidade de Imperfeição

Descobrindo o Pequeno Caminho      Reflexão de Pe. Richard Rohr 

 

  Durante novicado de Richard Rohr de se tornar franciscano, ele descobriu os escritos de Saint Thérèse de Lisieux (1873-1897). Padre Richard descreve o ensino de Thérèse como "uma espiritualidade da imperfeição":  

Muitas vezes mencionei meu amor por Thérèse de Lisieux, uma freira carmelita francesa com educação formal mínima, que em sua curta e oculta vida de apenas 24 anos capturou a essência dos ensinamentos fundamentais de Jesus sobre o amor. Thérèse foi declarada Doutora da Igreja em 1997 [1], o que significa que seu ensino é visto como completamente confiável e confiável. Ela "democratizou a santidade", como disse o irmão Joseph Schmidt (1934-2022), "deixando claro que a santidade está ao alcance de qualquer um disposto a fazer a vontade de Deus no amor a cada momento sucessivo à medida que a vida se desenrola". [2]    

Thérèse entrou em uma Igreja Católica do século XIX que muitas vezes acreditava em um Deus raivoso e punitivo, perfeccionismo e validação por bom comportamento pessoal — que é um caminho muito instável e ilusória. Em meio a esse ambiente rígido, Thérèse estava convencida de que sua mensagem, ensinada pelo próprio Jesus, era "totalmente nova". [3] O evangelho da graça radical tinha sido esquecido por muitos cristãos, tanto que Thérèse teve que chamá-lo de "novo".   

Thérèse chamou esse caminho simples e infantil de "pequeno caminho". É uma espiritualidade de imperfeição. Em uma carta ao padre Adolphe Roulland (1870-1934), ela escreve: "A perfeição parece simples para mim, vejo que é suficiente reconhecer o nada e abandonar-se quando criança nos braços de Deus". [4] Qualquer "perfeição" cristã é, de fato, nossa capacidade de incluir, perdoar e aceitar nossa imperfeição. Como eu sempre disse, crescemos espiritualmente muito mais fazendo errado do que fazendo certo. Essa pode ser apenas a lição central de como o crescimento espiritual acontece, mas nada em nós quer acreditar nisso.  

Se existe uma coisa como perfeição humana, parece emergir precisamente de como lidamos com a imperfeição que está em todos os lugares, especialmente em nós mesmos. Que lugar inteligente para Deus esconder a santidade, para que só os humildes, "pequenos", e sérios o encontrem! Uma pessoa "perfeita" acaba sendo aquela que pode perdoar conscientemente e incluir a imperfeição em vez daqueles que pensam que estão totalmente acima e além da imperfeição. Torna-se bastante óbvio uma vez que dizemos isso em voz alta.  

Perto do fim de sua vida, Thérèse explicou seu pequeno caminho para sua irmã, e isso se tornou parte de sua autobiografia Story of a Soul. Em contraste com a "grande maneira" do perfeccionismo heroico, ela ensina, em essência, que como uma pequena "com todas as imperfeições [dela]", o amor de Deus é atraído por ela. Deus tem que amá-la e ajudá-la porque ela é "muito pequena para escalar a escada áspera da perfeição". [5] Com total confiança, ela "acreditava-se infinitamente amada pelo Amor Infinito".   

[1] Pope John Paul II, “Proclamation of St. Thérèse of the Child Jesus and the Holy Face as a ‘Doctor of the Church,’” homily, October 19, 1997. 

[2] Joseph F. Schmidt, Walking the Little Way of Thérèse of Lisieux: Discovering the Path of Love (Frederick, MD: The Word Among Us Press, 2012), 22. 

[3] Story of a Soul: The Autobiography of St. Thérèse of Lisieux, trans. John Clarke, 2nd ed. (Washington, DC: ICS Publications, 1976), 207. 

[4] Thérèse to Adolphe Roulland, May 9, 1987, in Thérèse of Lisieux: General Correspondence, vol. 2, 1890–1897, trans. John Clarke (Washington, DC: ICS Publications, 1988), 1094. 

[5] Story of a Soul, 207. 

[6] Louis Liagre, A Retreat with St. Thérèse, trans. P. J. Owen (London: Douglas Organ, 1947), 22. Note: This is the book that Father Richard read during his novitiate year. 

Adapted from Richard Rohr, Falling Upward: A Spirituality for the Two Halves of Life (San Francisco: Jossey-Bass, 2011), xxii; and 

The Little Way: A Spirituality of Imperfection (Albuquerque, NM: Center for Action and Contemplation, 2007). 

 

 Agradecemos O Centro de Ação e Contemplação: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. 

 Richard Rohr's Daily Meditation 

From the Center for Action and Contemplation September 25, 2022 

 

 

Corpus Christi: mais cômodo adorar a Jesus que segui-lo

CORPUS CHRISTI: é mais cômodo adorar a Jesus que segui-lo (16/06/2022)  

 

“Dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9,13)

Celebramos o “Corpus Christi”, uma das festas mais ricas por seu conteúdo e simbolismo, mas que nos faz pensar também no “Corpo de Cristo” no meio de tantos outros corpos.

Aceitamos, pela fé, a presença real de Cristo na Eucaristia; isso implica comunhão bem maior com sua vida, seu testemunho de amor, de partilha, solidariedade, dedicação pela transformação de tudo aquilo que não dignifica a vida ou não dignifica os “corpos”. Comungamos o “Corpo de Cristo” para podermos viver o seguimento com mais radicalidade.

Infelizmente, o que temos observado é que grande parte dos cristãos não seguem uma Pessoa (Jesus Cristo), mas se limitam a cumprir alguns ritos, leis, práticas devocionais e piedosas… que revelam uma espirituali-dade intimista, alienante e distante do compromisso com os outros.

Participamos, com muita fé, dedicação e respeito, das celebrações do “Corpo de Cristo”, mas pode ser que, às vezes, façamos uma profunda cisão ou ruptura entre o que celebramos e a realidade que nos cerca, ou seja,

o compromisso com os “corpos” explorados, manipulados, usados, escravizados…      

Pode ser que, às vezes, tenhamos um profundo amor e respeito ao “Corpo de Cristo vivo e presente na Eucaristia”, e não O vejamos nos “corpos” que estão aí, aqui, ali, lá, por todos os lados…

Certamente, nunca passou pela cabeça de Jesus pedir que os seus(suas) seguidores(as) se pusessem de joelhos diante d’Ele. Ele, sim, se ajoelhou diante de seus discípulos para lhes lavar os pés; e, ao terminar essa tarefa de servos, lhes disse: “Se eu, o Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros”. Essa lição, ousada e provocativa, parece que nunca nos interessou. É mais cômodo transformá-Lo em objeto de adoração do que seguí-Lo no serviço, na disponibilidade e na entrega aos demais.

Todas as demonstrações de respeito e veneração diante do Corpo de Cristo tem seu sentido e significado. Mas, ajoelhar-nos diante do Santíssimo Sacramento e continuar menosprezando ou ignorando o próximo, é uma ofensa. Se, em nossa vida, não deixamos transparecer a atitude de Jesus, todos os gestos de adoração continuarão sendo “magia barata” para tranquilizar nossas consciências. É preciso descobrir a presença de Jesus em todos os corpos desfigurados, famintos, violentados, desprezados…, e que suplicam por uma pre-sença servidora e solidária. Diante destes corpos desumanizados, morada do Ressuscitado, é que devemos nos ajoelhar para facilitar a ajuda e o serviço. Ninguém pode servir a partir de uma posição elevada; é preciso “descer”, esvaziar-nos de nosso ego prepotente, para prolongar as mãos e o coração do Compassivo.

“Corpus Christi” nos fala, portanto, da “Encarnação continuada”, ou seja, Deus não só se “encarna”, Ele é Encarnação. A Encarnação não é um ato pontual, ou um evento isolado da história, mas uma atitude eterna de Deus. Toda a Criação e toda a Humanidade foram assumidas por este “mistério” fundante de nossa fé. Assim, toda a história humana se faz História da Salvação. E o “assim novamente encarnado” (S. Inácio) se visibiliza em todos os “corpos” humanos. “Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequeninos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mt 25,40)

Ao comungar o “Corpo de Jesus”, nosso corpo e todo nosso ser tocam algo do mistério da Encarnação. A comunhão é – ou deveria ser – uma sacudida pessoal e comunitária que nos impulsiona a retomar o projeto vital de Jesus, do qual nos afastamos continuamente.

Na Eucaristia se concentra toda a mensagem de Jesus, que é o Amor. O Amor que é Deus manifestado no dom de si mesmo e que Jesus deixou transparecer durante sua vida. Ao dizer, “isto é o meu corpo”, Jesus está afirmando: Isto sou eu: Dom total, Amor total, sem limites.

Ao comer o pão e beber o vinho consagrados, queremos afirmar: fazemos nossa a Sua vida e nos compro-metemos a nos identificar com o que foi e fez Jesus. O pão que nos dá a Vida não é apenas o pão que comemos, mas o pão no qual nos transformamos, quando fazemos de nossa vida uma doação contínua. Somos cristãos, não só quando comemos o pão, mas quando nos deixamos consumir, como Ele fez.

Discípulos(as) de Jesus somos quando aprendemos a partir o pão. Reconhecemos os cristãos hoje quando partem o pão e não o retém para si. O pão armazenado, como o maná no deserto, se corrompe, apodrece.

Compartilhar significa não “monopolizar”, não permitir que haja necessitados entre nós.

O pão partido é a vida compartilhada: bens, dons, tempo, qualidades…

O cristão, além disso, compartilha seus ideais, seu entusiasmo, seu ânimo, sua fé, sua esperança.

Também hoje Jesus precisa de nossas mãos para multiplicar os grãos; precisa de nossas mãos para triturar esses grãos, amassar a farinha e fazer o pão. E precisa de nosso coração para que o pão seja repartido.

O pão sem coração é pão “monopolizado”. Pão indigesto, que engorda o egoísmo.

O pão sem coração gera divisões e conflitos. Quantas guerras fraticidas provoca o pão sem coração!

Deus precisa de nosso coração para que o pão leve o sinal da fraternidade, seja vitamina de solidariedade, alimento de comunhão, energia de vida.

Por fim, é preciso enfatizar que, celebrar e venerar o “Corpo de Cristo” nos remete ao nosso corpo e ao corpo dos outros. Nossos corpos estão integrados e dignificados no Grande Corpo Cósmico d’Aquele que se esvaziou dos atributos divinos para se fazer “Corpo” e “divinizar” nossos corpos.

Integrados ao “Corpo do Ressuscitado” somos chamados a superar toda suspeita, medo, julgamentos moralistas e visões dualistas dos nossos corpos. Afinal, não “temos” corpo, “somos corpo”; pensamos, amamos, sentimos e entramos em relação com o Transcendente através de nosso corpo.

Enchemo-nos de assombro diante do mistério que é cada corpo. Nossos esquemas e dualismos de matéria-espírito, espaço-tempo, passado-futuro, longe-perto, parecem diluir-se. Todo corpo está “animado” e toda “alma” está sempre “corporificada”.

No encontro com o “Corpo de Cristo” passamos a ter uma outra visão de nosso corpo; isso implica superar a parcialização, a polarização e a dicotomia e buscar a harmonia e a integração.

Somos nosso corpo animado, com vida e com sentido. Construímos nossa vida com nosso corpo e graças a ele. Com, em e pelo corpo, vivemos nossa história, caminhamos pela vida na contínua aventura de crescimento e de maturação, de amor e de conhecimento, de encontro com os outros e conosco mesmo, com nossos desejos e medos, nossas alegrias e dores, nossas esperanças e desesperos, nossas vitórias e desilusões … Tudo isso está inscrito em nossa “carne”.

Nosso ser profundo, nosso ser essencial se manifesta, se abre para fora através de nosso corpo.

O corpo deixa transparecer o que há de mais humano e mais divino em seu interior.

Deixemos “transparecer” o “Corpo de Cristo” em nossos corpos!

Texto bíblicoLc 9,11-17

Na oração: Amiga, amigo, teu corpo que, que és tu mesmo, é habitado pelo Infinito, o Eter-no. Tu também, como Jesus, em comunhão com todo o universo em movimento e evolução, és corpo de Deus. O Infinito se manifesta e emerge de ti. Acolhe teu mistério, deixa-te acolher pelo Infinito em ti, deixa que suba, desde o mais profundo de ti, a voz que ora: “meu corpo canta a Ti, Senhor!”

– Deixa Deus ser Deus em ti. Sê corpo, morada de Deus. Celebra, cuida, reza: sê corpo de Deus, epi-fania carnal da Ternura infinita.

Pe. Adroaldo Palaoro, SJ       Site:   Centro Loyola    de Fé e Cultura de Goiania               https://centroloyola.com.br 

Tem tempo para as benções da vida?

Semana Laudato Si         22-29 de Maio   

Plantas ~ M. Honras, CSJ

          Toda a Terra, Louvado seja o Senhor ~ Marion Honors, CSJ

"Tantos seres no universo nos amam incondicionalmente. A canção de um pássaro pode expressar alegria, beleza e pureza, e evocar em nós vitalidade e amor. As árvores, a água e o ar não pedem nada de nós; eles nos amam. Mesmo que precisemos desse tipo de amor, continuamos a destruir essas coisas. Devemos tentar o nosso melhor para fazer o menor mal a todas as criaturas vivas." — Thich Nhat Hanh

Esta semana, que marca o aniversário da encíclica do Papa Francisco, Laudato Si, tire um tempo. Tome tempo, primeiro para estar nesta deliciosa estação de primavera (ou outono!), nesta alegre época da Páscoa. Tire um tempo para ouvir os pássaros, para ver as bênçãos das árvores, água, flores e ar. Tire um tempo para absorver a abundância e tomar medidas para amar a criação em troca!

 

Enviado com as orações do Grupo de Oração e Diálogo Contemplativo da Federação JPIC: Audrey Mang, Janet Lander, Karen Cavanagh, Linda Neil, Maria Elena Perales e Nancy O'Byrne  (Agradecemos a Federação das Irmas de São José nos Estados Unidos;    tradução de inglês)      

 

Aprender a Ver Olhos de Páscoa

 

      Texto de Irmã Ilia Delio

 

Uma das pessoas mais notáveis que conheci ao longo desta jornada da vida é o falecido Jesuíta Padre John Haughey. Sua mente aguçada foi combinada com seu senso de humor divertido. Como colegas do Woodstock Theological Center, John e eu passamos muitas horas falando sobre o mistério da matéria e a presença de Deus.

Uma vez, durante nossa conversa, ele contou como havia de terminado um retiro, em que o ponto alto do retiro não era a oração interior, mas a experiencia de olhar para uma flor buttercup (botão de ouro). Durante todo o seu retiro, ele ficou com esta pequena flor todos os dias, totalmente presente a ela, sendo atraído para o milagre de sua delicada vida.

Muitas vezes penso na experiência de João porque ele descobriu Deus no lugar mais inesperado, as frágeis e delicadas pétalas de uma flor de buttercup (botão de ouro). Deus é a profundidade final de tudo o que existe, escreveu Paul Tillich, mas devemos aprender a ver. Jesus perguntou repetidamente aos seus discípulos: O que você vê? Pois o reino de Deus está aqui e agora. Para os incrédulos, ele lamentou: "É porque você diz que vê que sua cegueira permanece" (João 9:41).

Pierre Teilhard de Chardin, o famoso cientista jesuíta, também era um forte defensor da visão. "Ver e fazer os outros verem" foi o coração de sua obra-prima, O Fenômeno Humano. "Toda a vida está nesse verbo", disse ele.

Que tipo de visão é essa que revela não apenas a superfície das coisas, mas também o seu  interior? Aqui está a questão que distingue a visão física da visão espiritual, como escreveu Antoine de Saint-Éxupery em O Pequeno Príncipe: "Só se vê bem com o coração, não com a razão, o que é essencial é invisível ao olho físico".

São Francisco de Assis viu com seu coração. Ele era um místico da natureza cujo olhar interior transformou o mundo no corpo vivo de Cristo. Quando ele viu dois galhos na forma de uma cruz, a paixão de Cristo foi despertada nele; quando viu uma minhoca ao longo da estrada, pensou no Salmo 22:6: "Eu sou um verme e não homem, desprezado por todos."

E quando ele ficou fisicamente cego no final de sua vida e não podia mais tolerar a luz do dia, ele viu o mundo apenas partir de dentro, um mundo radiante com o esplendor de Deus, expresso no Irmão Sol, Irmã Lua e Irmã Mãe Terra.

A visão evangélica nos chama a ver o incrível: este mundo todo, louco e caótico está cheio de Deus. A vida cristã está aprendendo a ver o que já está presente e a se unir com o que se vê; esta é a vida sacramental. Michael Himes afirma que um sacramento é qualquer coisa que desperta, anima e expande a imaginação, abre a visão do olho interior e enriquece a sensibilidade de qualquer ser humano.

Somos convidados a ver o invisível no visível, para experimentar, notar, aceitar e celebrar cada milagre da vida, seja um pequeno galho, uma pequena flor, ou um humano corpulento, porque tudo está explodindo com a vida divina. "O mundo é carregado da grandeza de Deus", como escreveu Gerard Manley Hopkins, mas se estivermos distraídos, desatentos ou isolados das energias pulsantes da vida, sentiremos falta da percepção do milagre.

Os cientistas hoje falam de emaranhamento, a ação inextricável de tudo sobre todo o resto. O papel da consciência é fundamental para perceber nossa interdependência porque o emaranhamento sugere que todos os aspectos da matéria têm agência. Não é simplesmente o ser humano olhando para a xícara de manteiga, mas a xícara de manteiga está olhando para o humano; nós humanos e xícaras de manteiga somos parte de um todo cósmico. Quando olhamos para uma árvore ou uma flor, também estamos olhando para nós mesmos, pois somos feitos do mesmo material que faz xícaras de manteiga e nozes exclusivamente frágeis e bonitas.

O que une toda a vida? Teilhard disse que o amor forma a estrutura física do universo; o amor é a energia central da vida cósmica. O amor une e atrai observadores e observados em uma união de vida, aberta a uma nova vida. Só um Deus do amor eterno poderia fazer algo tão louco. Apenas um Deus bêbado de amor, como escreveu o Pseudo-Dionísio, poderia renunciar ao poder da divindade e tornar-se pequeno e frágil em uma pequena flor amarela.

É essa desistência do poder divino que permite que Deus more em lugares inesperados, capacitando todos os aspectos da vida a se tornarem algo mais apaixonado, mostrando-nos que a frágil, frágil e fraca matéria tem o poder de ser transformada em algo eterno. "Não há nada profano abaixo", escreveu Teilhard, "para aqueles que sabem como ver."

Toda a criação está grávida do amor infinito de Deus; Deus está sempre amando o mundo com tudo o que Deus é. Uma vez que não podemos conceber Deus separadamente da existência material, toda a vida neste universo do Big Bang é incarnacional; é completamente Crística. Deus está dinamicamente engajado em todos os aspectos da vida física, desde o início, atraindo todo o amor para a plenitude do ser.

Esta é a boa notícia da mensagem da Páscoa. Deus não está morto ou ausente ou aposentado; Deus está ativo e vivo, aqui e agora, nas coisas que chamamos de matéria. A matéria importa para Deus, mas temos que nos desconectar de nossos dispositivos, sair de nossos cubículos, e abrir nossos olhos para ver. Deus está fazendo coisas novas e nós somos convidados para esta dança da vida sempre fluindo.

A Páscoa nos diz que não somos só nós que somos salvos, mas Deus é salvo de uma vida solitária do poder divino. Deus é o grande aventureiro cósmico que oferece um convite divino para ressurgir dos mortos e se juntar à exuberante celebração da vida, pois, verdadeiramente Cristo ressuscitou!

Uma versão desta história apareceu na edição impressa de 15 a 28 de abril de 2022 sob a manchete: Olhando para uma xícara de manteiga através dos olhos da Páscoa .

Texto original em inglês,  National Catholic Reporter,  Global Sisters Report  16 de abril 2022      www.ncronline.org 

Ilia Delio, membro das Irmãs Franciscanas de Washington, D.C., é a Josephine C. Connelly Dotada de Cadeira em Teologia na Universidade de Villanova.

O Dolorosa Ferida do Medo

A dolorosa ferida do medo

“Quem for medroso e tímido volte para trás” (Jz 7,3)

Chegamos à pós-modernidade com uma enorme carga de medo. Somos atormentados o tempo todo pelo medo, um medo sem nome, um fantasma sem rosto, escuro como uma sombra e rápido como uma tempestade. Medo cruel que afeta os corajosos e agride os ousados. Não existe depósito de munição mais potencialmente explosivo do que os estoques de medo guardados nas escuras profundezas do ser humano. Há um verdadeiro pânico permanente envolvendo pessoas, grupos e instituições.

No medo, as pessoas encaram os outros como inimigos, e as oportunidades como ameaças. A vida é um campo de batalha. Uma longa cadeia de medos, da primeira à última respiração, nos ameaça nesta terra de sombras. Diferentes medos congelam nossas relações, atormentam nossa vida, quebram nossa serenidade, obscurecem o nosso próprio ser, matam nossos sonhos e intuições: medo do fracasso, da velhice, medo de mudanças, medo de decidir, medo de não corresponder às expectativas dos outros, medo de perder o emprego, medo de se comprometer, medo da situação social-econômica, medo da violência, medo do diferente, medo do vazio, medo do outro, medo da solidão, medo do novo, medo de viver e de morrer, medo de dizer a verdade  (dá medo porque também se tem medo da verdade), medo do futuro. Há um medo silencioso que se manifesta na falta de sentido da vida: o medo que abala as razões para viver. Nada mais terrível do que ter medo de tudo. Com medos é insuportável viver.

O medo deixa as pessoas vulneráveis à manipulação

Grandes medos não aparecem com frequência. São os pequenos medos que surgem dos encontros diários com a realidade e roubam da pessoa sua vitalidade e dinamismo. O medo inibe o pensamento, impede a concentração e é, portanto, muito responsável por se fazer as coisas de modo medíocre, sem valor, abaixo das possibilidades e contra as próprias expectativas.

O medo não é um ato moral nem uma omissão. Sem ser convidado, ele cresce no coração humano. Em tal atmosfera de medo, a imaginação e todas as energias criativas se atrofiam.

O medo é um câncer que ameaça à fé, ao amor e à esperança de pessoas e instituições. Ele corrói as fibras humanas, asfixia talentos, esvazia a vida e mata a criatividade. O medo encolhe o ser humano, inibe a decisão e bloqueia os movimentos em direção ao “mais”. Sua intensidade pode anular a capacidade de reação das pessoas ou das instituições. Ele impede o discernimento e a busca da solução mais inteligente para os problemas. Longe de resolvê-los, pode agravá-los a médio e longo prazo.

Esses vários medos tiram o brilho tão próprio do amor e seca as fontes da esperança, ele nos acovarda e nos enterra na acomodação mesquinha. Estamos condenados, como pessoas e como instituição, a viver no medo?

O medo obscurece o sentido e a direção da vida

Do coração amoroso e maternal-paternal de Deus brota este convite: “Não tenhais medo”. Um convite com força libertadora, é a força da Graça de Deus que alavanca o passo para a frente: o passo da mudança, o passo da audácia de sonhar de novo, o passo do trabalho criativo. As batalhas mais profundas do espírito se conquistam com o atrevimento da coragem, com a força da fé, com a imaginação solta, com a criatividade livre e desimpedida.

É preciso rastrear, identificar, compreender e exilar os medos de nossos corações. É urgente substituir a cultura do medo pela cultura da coragem. A coragem desbloqueia energias, impulsiona decisões, levanta projetos, reacende a criatividade e o gosto por viver. Só assim poderemos trabalhar em liberdade e viver na alegria, recuperar a confiança no Deus que nos olha com ternura, viver a partir do amor que afasta todos os medos. De fato “no amor não existe medo, pelo contrário, o amor perfeito lança fora o medo, quem sente medo ainda não está realizado no amor” (1Jo 4,18).

Sem a superação cotidiana desse medo, nossa missão estará comprometida, perderá sua força inovadora, garantida pela novidade do Projeto de Deus. O compromisso com o Reino requer de todos uma forte dose de coragem e uma alma ágil, animada e vivificada pelo sabor da aventura e da novidade.

Vencido o medo, nós nos tornaremos autênticos, criativos e audazes seguidores de Jesus.

Texto Bíblico Mt 14,22-33 / Mt 25,14-30

Agradecemos o site:    www.centroloyola.com.br    Espiritualidade Inaciano,   Centro Loyola, Goiânia, Goiás 

Somos Milagres!

      

Uma vez que confrontamos nosso medo e aceitam os que somos milagres, nossas vidas são mudadas para sempre.                                                                                   E então nosso trabalho realmente começa. (Unsplash Ian Kiragu)

Uma irmã religiosa é primeiro uma mulher, uma mulher, uma irmã e, claro, uma mãe com todas as qualidades inatas associadas a cada um desses papéis, que incluem ter cuidado, estética ou beleza consciente, amorosa, protetora e atenciosa. Quando ela foi criada (Gênesis 2:21-24) por Deus, ela foi abençoada e recebeu uma vocação. Em sua resposta ao chamado divino como irmã religiosa, ela leva consigo todas as características femininas de uma mulher. Estive pensando sobre a relevância do nosso chamado como irmãs religiosas em um mundo em rápida mudança.

A irmã religiosa tem nela o divino - o milagre nela. Em outras palavras, "Somos milagres!"

Pense sobre isso. Temos dentro de nós o divino, e a maioria de nós acredita em um poder superior, um espírito ou uma força fora de nós mesmos. No entanto, o que é impressionante é que não importa o que chamamos de poder - Deus, Yahweh, Jeová, Cristo, Alá, Buda, Yemoja (uma deusa yorubá), os crentes em todas as religiões professam ser reivindicados e amados por este poder. Todo mestre - Jesus, Buda, Krishna - teve a mesma mensagem: "O que eu sou você é. O que eu posso fazer, você pode fazer. Essas coisas e muito mais você também deve fazer. Neale Donald Walsch fala sobre isso em seu livro Conversations with God (Conversas com Deus)

Pergunto a cada irmã religiosa: Você é um milagre? Você se sente assim por dentro? Eu definiria um milagre como uma ocorrência extraordinária que não pode ser explicada pela ciência, e, portanto, é atribuída a Deus. Como mencionei no início, o fato de que cada irmã e cada ser humano tem Deus dentro dele ou dela, então segue-se que cada um de nós tem algo especial, algo único dentro. É responsabilidade do indivíduo descobrir isso com a ajuda de sistemas existentes como a família, a educação da igreja ou o governo. O que é único em você como uma irmã, chamada entre muitos?

Marilyn Hughes Gaston e Gayle K. Porter (Horário Nobre) se perguntaram por que ignoramos nossos corpos milagrosos. Mas eu ecoo, por que permitimos que outros nos depreciem? Por que falhamos em honrar e afirmar o divino dentro de nós? Cada um de nós poderia provavelmente fornecer uma explicação.do sublime ao ridículo. Ou permitimos que o pensamento negativo que cerca nosso ambiente obscureça nosso próprio pensamento, dificultando a visão além dos desafios que encontramos?

Eu tenho pensado em possibilidades que vão de casa através do sistema educacional, para corporações onde - à medida que cada indivíduo cresce - ele ou ela é recebido com comentários como, "Você é realmente serve para nada" ou, "Você não pode fazê-lo na vida - você tem que ser assim e assim." Acho que tanta negatividade pesa sobre nossas personalidades na medida em que elas destroem nosso crescimento e desenvolvimento. Esta pode ser uma razão pela qual não honramos e cuidamos consistentemente do milagre de nossas vidas.

O livro de Marianne Williamson, A Return to Love (muitas vezes atribuído a Nelson Mandela) oferece uma explicação valiosa para a mudança:

Nosso medo mais profundo não é que sejamos inadequados. Nosso maior medo é que sejamos poderosos de mais. É nossa luz, não nossa escuridão que mais nos assusta. Perguntamos a nós mesmos quem sou eu para ser brilhante, lindo, talentoso e fabuloso? Na verdade, quem é você para não ser? Você é filho de Deus. Seu jogo pequeno não serve ao mundo. Nascemos para manifestar a glória de Deus que está dentro de nós. Não é apenas em alguns de nós; está em todos. Quando deixamos nossa luz brilhar, inconscientemente damos permissão para outras pessoas fazerem o mesmo. À medida que somos libertados do nosso próprio medo, nossa presença liberta automaticamente os outros.

Para as pessoas que optam por abraçar a mudança, a era COVID-19 tem sido um marco de autodescoberta que os afetou incomensuravelmente. Alguns exemplos: Durante esse período de pandemia, uma irmã-amiga minha — que no passado não tinha interesse em bufê — encontrou uma nova paixão na produção de tudo feito de trigo, de bolos a torta de carne. Uma vizinha começou a fornecer tapetes de mesa feitos de misçangas — que ela aprendeu a fazer e fez durante o COVID-19. Pessoalmente, aprendi a preparar sabão multiuso para uso doméstico e até mesmo os ingredientes que fazem esse sabão, entre outros utensílios domésticos.

Todos esses talentos e muitos outros estavam escondidos em nossos corações e mentes até que o COVID empurrou cada um de nós, impiedosamente nos desafiando a pensar fora da caixa - ou melhor ainda, para pensar dentro da caixa. Cada pessoa parecia perguntar :"O que mais posso fazer além do trabalho normal?" Posso não saber os planos de cada pessoa depois do COVID-19, mas para mim o novo normal é continuar avançando e integrando esse fato de abraçar a mudança na minha vida.

Uma vez que confrontamos nosso medo e aceitamos que somos milagres, nossas vidas são mudadas para sempre. E então nosso trabalho realmente começa. Como o Dr.M. Scott Peck escreveu em The Road Less Travelled: "Se ouvirmos seriamente este 'Deus dentro de nós', geralmente nos vemos sendo instados a tomar o caminho mais difícil, o caminho de mais esforço em vez de menos."

Se realmente acreditamos que somos milagres e conter o divino dentro de nós, não há como discriminar outro por causa da cor, classe, origem ou nível de educação. Seria como discriminar o próprio Deus. O Deus dentro de nós faz o milagre de amar a outra irmã ou irmão, apesar de todas as probabilidades.

Se realmente acreditássemos que participamos da natureza divina de Deus, não poderíamos ignorar ou minimizar o tempo que passamos em oração pessoal para construir uma relação pessoal com Deus. Além disso, por causa dessa presença em nós, nos tornamos mais dispostos a obedecer, aceitar e possuir as regras constitucionais de nossos institutos religiosos individuais e as horas litúrgicas que uma vez nos atraíram para a vida religiosa; tudo isso se torna mais significativo para nós e muito produtivo em nossas vidas. Isso resulta em uma testemunha autêntica de Jesus na sociedade. Essas atitudes positivas em nós podem nos ajudar a recuperar uma espiritualidade saudável, para que a luz divina de Cristo possa brilhar.

Sempre amei a citação atribuída a Hans Urs von Balthasar: "O que você é é um presente de Deus para você; o que você vai se tornar é o seu presente para Deus.” No início desta coluna, eu disse que cada um de nós tem o divino dentro de nós. Como seria o mundo se cada pessoa experimentasse o divino interior, celebrasse essa experiência e compartilhasse o mesmo com os outros?

 

Obrigada à Irmã Nancy Watenga, autora deste texto, traduzido de inglês. 

Nancy Watenga, do Quênia, é uma irmã que vive no mundo como uma mulher consagrada para a Diocese de Nakuru. Anteriormente com as Irmãs do Imaculada Coração da Nigéria, ela estudou educação na Universidade Católica da África Oriental e foi vice-diretora do ensino médio por cinco anos e chefe de faculdade por sete anos. Recentemente, ela começou a ser mentora de estudantes do ensino médio e universitário. Atualmente ela vive em Nakuru, no vale do Rift, no Quênia, onde ela e outras oito irmãs estão procurando formar uma associação.

Acordar Grato!

         Cada dia uma Ação de Graças!

Em vez de entrar no “Black Friday” de consumismo, vamos refletir o sentido deste fim de novembro e entrar na celebração de Ação de Graças!

Agradeçamos o Gratefulness.org, site em inglês, que é dedicado a prática diária de estar grato.

"Gratidão nos lembra que somos mantidos no amplo e gracioso abraço do mundo, e devemos considerar e apreciar os dons desta vasta teia de parentesco. "

                                                                                          ~ Kristi Nelson, Acorde Grato

Nós existimos em uma constelação de relações humanas que é ao mesmo tempo complexa, dando vida e bonita. Mesmo em tempos de solidão ou desespero, permanecemos ligados um ao outro — mantidos, inclusive — pelos menores atos cotidianos, as realidades da interdependência e os mistérios do coração. Enquanto essa constelação de conexão humana sempre ilumina nossas vidas, nós a experimentamos mais poderosamente quando nos voltamos para ela com atenção e cuidado.

O último ano e meio exigiu que encontrássimos e que nos conectássimos uns com os outros, a fim de sustentar nossos corações, corpos e mentes. Vivendo com gratidão, somos convidados a cuidar e aprofundar as conexões em nossas vidas perguntando e explorando:

  • Como podemos nos sintonizar totalmente com as relações que dão vida nas quais dependemos?
  • Como nutrir e curar essas conexões através da curiosidade, ternura e brincadeira?
  • De que forma podemos expressar, de forma autêntica e criativa, nosso cuidado com as relações que nos amarram uns aos outros e à própria vida?

Traduzida de:   Kristi Nelson, Executive Director     www.Gratefulness.org

Vacinas para Todos... especialmente os mais vulveráveis!

Publicamos aqui a nota divulgada pela Pontifícia Academia para a Vida em seu site, 22-01-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.  OBRIGADA IHU Unisinos

          Diante dos gravíssimos problemas que estão se apresentando em relação à produção e à distribuição da vacina contra a Covid-19, a Pontifícia Academia para a Vida reitera fortemente a urgência de identificar sistemas adequados de transparência e colaboração.

Há muito antagonismo e competição, e o risco de fortes injustiças. O Papa Francisco, ainda na Mensagem Urbi et Orbi, no dia de Natal, 25 de dezembro passado, tinha dirigido um pedido urgente: “Peço a todos: aos responsáveis dos Estados, às empresas, aos organismos internacionais, que promovam a cooperação e não a concorrência, e busquem uma solução para todos: vacinas para todos, especialmente para os mais vulneráveis e necessitados em todas as regiões do planeta. Em primeiro lugar, os mais vulneráveis e necessitados!”.

Essas palavras exigem uma escuta responsável por parte de todos, da comunidade cristã, dos fiéis, de todos os homens e mulheres de boa vontade.

O Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral e a Pontifícia Academia para a Vida publicaram no dia 29 de dezembro passado um documento específico sobre a importância da vacinação e sobre as modalidades para que a vacina seja um bem comum de todos.

E se pedia, entre outras coisas, que se superasse a lógica do “nacionalismo vacinal”, entendida como uma tentativa dos diversos Estados de ter a própria vacina mais rapidamente, obtendo primeiro, em todo o caso, a quantidade necessária para os seus habitantes.

Devem ser promovidos e apoiados os acordos internacionais para gerir as patentes de forma a favorecer o acesso de todos ao produto e evitar possíveis curtos-circuitos comerciais, também para manter o preço controlado no futuro. A produção industrial da vacina deveria se tornar uma operação colaborativa entre Estados, empresas farmacêuticas e outras organizações, para que possa ser realizada simultaneamente em diversas regiões do mundo.

É uma oportunidade extraordinária para um novo futuro mais solidário. Isso foi possível – pelo menos em parte – pela pesquisa. Com o mesmo espírito, deve-se iniciar uma sinergia positiva, valorizando os meios de produção e distribuição disponíveis nas diversas áreas em que as vacinas serão administradas, com base no princípio da subsidiariedade.

Portanto, deve-se evitar que alguns países recebam a vacina muito tarde por causa de uma redução da disponibilidade devido à aquisição prévia de enormes quantidades pelos Estados mais ricos. A distribuição da vacina requer uma série de instrumentos que devem ser especificados e realizados para alcançar os objetivos acordados em termos de acessibilidade universal. Uma solicitação aos governos nacionais e às organizações da União Europeia e da OMS para que atuem nesse sentido parece ser cada vez mais forte e urgente.

Desse modo, concretiza-se o apelo do papa: todos irmãos e irmãs!

Dom Vincenzo Paglia, presidente
Dom Renzo Pegoraro, chanceler

 

 

São José, Pai Amado

Caras leitoras, caros leitores,

Oferecemos, para sua reflexão nas próximas semanas, partes da Carta Apostólica do Papa Francisco sobre São José, Patris Corde.

“Todos podem encontrar em São José – o homem que passa despercebido, o homem da presença quotidiana discreta e escondida – um intercessor, um amparo e uma guia nos momentos de dificuldade. São José lembra-nos que todos aqueles que estão, aparentemente, escondidos ou em segundo plano, têm um protagonismo sem paralelo na história da salvação. A todos eles, dirijo uma palavra de reconhecimento e gratidão.” (Introdução

A grandeza de São José consiste no fato de ter sido o esposo de Maria e o pai de Jesus. Como tal, afirma São João Crisóstomo, «colocou-se inteiramente ao serviço do plano salvífico».

São Paulo VI faz notar que a sua paternidade se exprimiu, concretamente, «em ter feito da sua vida um serviço, um sacrifício, ao mistério da encarnação e à conjunta missão redentora; em ter usado da autoridade legal que detinha sobre a Sagrada Família para lhe fazer dom total de si mesmo, da sua vida, do seu trabalho; em ter convertido a sua vocação humana ao amor doméstico na oblacão sobre-humana de si mesmo, do seu coração e de todas as capacidades no amor colocado ao serviço do Messias nascido na sua casa».

Por este seu papel na história da salvação, São José é um pai que foi sempre amado pelo povo cristão, como prova o facto de lhe terem sido dedicadas numerosas igrejas por todo o mundo; de muitos institutos religiosos, confrarias e grupos eclesiais se terem inspirado na sua espiritualidade e adotado o seu nome; e de, há séculos, se realizarem em sua honra várias representações sacras. Muitos Santos e Santas foram seus devotos apaixonados, entre os quais se conta Teresa de Ávila que o adotou como advogado e intercessor, recomendando-se instantemente a São José e recebendo todas as graças que lhe pedia; animada pela própria experiência, a Santa persuadia os outros a serem igualmente devotos dele.[9]

Em todo o manual de orações, há sempre alguma a São José. São-lhe dirigidas invocações especiais todas as quartas-feiras e, de forma particular, durante o mês de março inteiro, tradicionalmente dedicado a ele.

A confiança do povo em São José está contida na expressão «ite ad Joseph», que faz referência ao período de carestia no Egito, quando o povo pedia pão ao Faraó e ele respondia: «Ide ter com José; fazei o que ele vos disser» (Gn 41, 55). Tratava-se de José, filho de Jacó, que acabara vendido, vítima da inveja dos seus irmãos (cf. Gn 37, 11-28); e posteriormente – segundo a narração bíblica – tornou-se vice-rei do Egito (cf. Gn 41, 41-44).

Enquanto descendente de David (cf. Mt 1, 16.20), de cuja raiz deveria nascer Jesus segundo a promessa feita ao rei pelo profeta Natan (cf. 2 Sam 7), e como esposo de Maria de Nazaré, São José constitui a dobradiça que une o Antigo e o Novo Testamento.