Desde o primeiro ato, diante da Praça São Pedro lotada, Jorge Mario Bergoglio emitia os primeiros sinais do que haveria de ser seu pontificado: curva-se diante do povo e do mundo, como um sujeito que se põe a serviço.

Con il viaggio a Lesbo papa Francesco chiede di salvare i migranti -  Francesco Peloso - Internazionale“Aquela cena na varanda naquela noite indicou imediatamente para aqueles com olhos para ver e ouvidos para ouvir que este seria um tipo diferente de pontificado.”, diz Nichole Flores, uma professora universitária.

Hoje, dez anos depois, parece ser mais fácil compreender esses gestos tendo em perspectiva outros que ocorreram, como sua primeira viagem oficial, a ida a Lampedusa, a ilha que recebe imigrantes desesperados e lá, em silêncio, olhou para essa gente e jogou uma coroa de flores ao mar. O olhar dele para aquela realidade era como um farol para o mundo.

Um pastor ou teólogo? E quem sabe reformador...

O mais curioso é que, ainda lá em 2013, quando esse mundo aturdido pelas transformações se surpreendia e questionava as ações de Francisco em suas críticas à crise migratória e a uma economia geradora de desigualdades – aliás, nunca antes tomadas por qualquer outro papa –, o novo Bispo de Roma se mostra tranquilo. Talvez, por estar ciente de que a Igreja não tem todas as respostas; ela precisar sair de si, estar aberta na busca por respostas e caminhos.

Dia Mundial dos Pobres: não só assistencialismo, mas transformar a  sociedade - Vatican News Mostrar em atos muito mais do que dizer. Essa seria a grande perspectiva de um pastor? Havia narizes torcidos porque saía de cena um papa teólogo, Bento XVI, talvez o maio deles, e entrava um pastor.

Como se a pastoralidade fosse algo apartado da teologia!

Francisco tem provocado a pensarmos uma outra teologia, uma teologia encarnada e estreitamente ligada à vida concreta, típica de uma Igreja em saída.

Para Francisco, “apreender sensibilidades novas: este é o desafio”. É por isso que promove o diálogo entre os sujeitos, entre a teologia e as ciências, entre os crentes de outras religiões. “O diálogo como hermenêutica teológica pressupõe e comporta a escuta consciente”, observa.

Assim, é em Laudato si’ que Francisco se coloca efetivamente como pontífice. Mas ele não escreve o documento sozinho. Muito mais do que um documento apostólico com orientações doutrinárias, esta encíclica é um alerta para toda humanidade – lida até por muitos como um manifesto – sobre a crise ambiental e a necessidade do cuidado da casa comum. Para tanto, o papa vai à ciência e promove na prática aquele diálogo que ele incita através de sua visão muito particular de teologia.

Este texto é baseado em trechos tirados do artigo “A Opção Francisco: uma lufada de ar e virada profética.” - https://www.ihu.unisinos.br/626743  

Recomendamos que o leia na íntegra.