Os yanomami viviam em isolamento quase total até os anos 1980, quando foi encontrado ouro em seu território. Nas décadas seguintes, cerca de 40 mil garimpeiros ilegais invadiram a região, levando doenças como tuberculose e malária e poluindo os rios com o mercúrio utilizado na procura por ouro.

Uma série de estudos realizados desde os anos 1990 aumentaram a conscientização a respeito dos efeitos negativos da extração ilegal de ouro sobe a população yanomami, de cerca de 30 mil pessoas.

Por centenas de anos, o isolamento dos yanomami os deixou livres de muitas das pragas do mundo “civilizado”, incluindo a tuberculose. Foi somente a partir dos anos 1980, com a descoberta do ouro e o grande fluxo de pessoas para a região, que as infecções se espalharam a ponto de se tornarem epidêmicas.

Nas décadas seguintes ao início da exploração do ouro – e da extração ilegal de madeira – e, em particular, nos últimos anos, os pesquisadores observaram um aumento notável nos casos de malária entre os yanomami. As alterações feitas pelo garimpo a céu aberto e a escavação do leito dos rios produzem locais abundantes para a procriação dos mosquitos.

De 2016 a 2020, o número de garimpeiros aumentou na região. Ao mesmo tempo, o número de casos de malária subiu 1.090% nas áreas indígenas e 75.576% em áreas de garimpo, diz o estudo.

Os garimpeiros utilizam mercúrio líquido para encontrar ouro no sedimento escavado dos rios da Amazônia. O depósito ilegal desse mercúrio no ambiente natural polui as áreas normalmente utilizadas pelos Yanomami para caçar, pescar e colher.

Uma pesquisa liderada por Paulo Basta, médico e cientista da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), apresentou provas de que essa prática tem resultado em níveis excepcionalmente altos de mercúrio nas populações yanomami próximas aos garimpos. 

Historicamente, os yanomami tiram seu sustento da terra. Eles comem animais selvagens – aves, mamíferos e peixes – e frutas por eles plantadas, como bananas.

Os garimpeiros destruíram a floresta... deixaram os locais sem vegetação e alagados. Nessas áreas, toda a caça desapareceu e os peixes estão contaminados pelo mercúrio.

Em muitas partes do território Yanomami, os garimpeiros não apenas interromperam, mas também destruíram a cadeia alimentar, tornando impossível a subsistência dos indígenas a partir da terra, da maneira que estão habituados.

Recentemente, Davi Kopenawa disse, "Os yanomamis nunca morreram de fome. Estou aqui, tenho 66 anos e quando era pequeno, ninguém morria de fome. Agora o garimpo está matando o meu povo e também os parentes Munduruku e Caiapó. Quando os indígenas ficam doentes, eles não conseguem trabalhar [na roça] ou caçar", diz. 

Fontes: Carta Capital, Deutsche W., Folhapress