Hebe de Bonafini, fundadora e presidente da associação das Madres de Plaza de Mayo, faleceu aos 93 anos, no dia 20 de novembro. Pela primeira vez em quase 50 anos, Hebe não estará presente em uma das "rondas" da Plaza de Mayo, com o simbólico lenço branco atado na cabeça, para exigir verdade e justiça para os maridos, filhos e outros membros da família que desapareceram durante a ditadura na Argentina.

A ditadura militar da Argentina, de 1976-1983, praticou muitos crimes contra seu próprio povo. À medida que seus filhos eram sequestrados e “desapareciam”, suas mães saiam em busca de notícias dos seus filhos. No início, as mães atuavam individualmente, encontrando-se às portas de ministérios e quartéis.

Em 30 de abril de 1977, catorze mães foram à Praça e decidiram encontrar-se às quintas-feiras na Praça de Maio, que a essa hora era muito transitada. Lá elas permaneciam de pé, sem se locomover. Mas logo os policiais que vigiavam a praça lhes pediam que circulassem: vigorava o Estado de sítio, e os grupos de três ou mais pessoas estavam proibidos. Assim, começaram as passeatas ao redor da Pirâmide de Maio, no centro da praça. Desde então, as Mães continuam se manifestando toda quinta-feira.

Quando a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização de Estados Americanos (OEA) visitou a Argentina, em setembro de 1979, as Mães puderam apresentar formalmente as denúncias sobre o desaparecimento de seus filhos. A partir de tais denúncias, os crimes contra a humanidade que o governo militar estava cometendo ficaram conhecidos em todo o mundo.

 

Mães de desaparecidos políticos na Praça de Maio, em Buenos Aires, na Argentina, em dezembro de 1982 (Archivo Hasenberg-Quaretti/Wikimedia Commons)

 

Juntamente com as Mães, em outubro de 1977, surgiram as Avós da Praça de Maio, mães cujas filhas ou noras foram sequestradas ainda grávidas. Elas buscam netos,  nascidos em centros clandestinos de detenção e  entregues a famílias de repressores.  

 

Hoje existe um banco de dados genéticos de familiares das vítimas da ditadura, que ajuda a encontrar os filhos que foram  separados dos pais naquela época.

Hebbe e Papa Francisco

A relação com Jorge Mario Bergoglio, o atual Papa Francisco, foi um ponto-chave na sua história pessoal. No passado, ela havia criticado dura e continuamente o então Arcebispo de Buenos Aires. "Eu tinha perdido completamente a minha fé e quando a relação começou, ele me restituiu a fé, que é tão necessária.... Sem fé não se pode viver, e graças a esta fé falo com meus filhos todas as noites", disse a senhora Hebe à rádio AM-530 em uma entrevista. O Papa Francisco tinha a convidado muitas vezes para ir ao Vaticano, mas ela sentia que não deveria ir porque já havia discutido com ele muitas vezes. “Até que um dia ele enviou um bispo à minha casa, com quem falei e aceitei o convite para visitá-lo". Em 2016 os dois encontraram-se na Casa Santa Marta.

No encontro falaram sobre a dramática situação na Argentina e depois, ela admitiu publicamente que tinha se enganado sobre o Papa Bergoglio, pois ela não conhecia seu compromisso pelos pobres. Em 2017, Hebe enviou uma carta ao Papa em que recordou os 40 anos “da luta” das Madres, “sem deixar de ir uma única quinta-feira na praça”: '2036 marchas, restam apenas algumas de nós, mas construímos uma ponte indestrutível entre os nossos filhos e as novas gerações que levaram a Pátria a sério, então nós Madres morreremos serenas porque a luta e a defesa da vida estão nas melhores mãos, as dos jovens que estão empenhados em lutar pelos outros e pelas outras". 

Fontes: Vatican News e http://latinoamericana.wiki.br