Fonte: OPINIÃO - Mara Gama - Colunista do UOL - 13/10/2022 06h00

Cop da Implementação, Cop dos Vulneráveis. A 27ª Conferência das Partes da ONU para as Mudanças Climáticas, em Sharm El-Sheikh, no Egito, começa no próximo dia 6 de novembro com o desafio eterno de transformar promessas em progressos e um outro mais urgente de apontar medidas concretas para proteger os principais alvos das catástrofes do clima, as atuais e as futuras.

O contexto não é nada animador. As emissões de gases do efeito estufa seguem aumentando. Os relatórios mais recentes do painel da ONU, o IPCC, demonstram a gravidade da crise climática, com aumento da frequência e intensidade dos eventos drásticos. Esses eventos já comprometem a saúde e a segurança de milhões de pessoas e têm impactos na produção de alimentos e no acesso à água potável.

Como lição de casa da Cop 26 de 2021, em Glasgow, os países deveriam revisar e tornar mais ambiciosas suas metas de redução de emissões para 2030, as NDCs, com o objetivo de manter o aumento da temperatura global em 1,5 graus C (2,7 graus F). As NDCs deveriam ser apoiadas pelo financiamento, políticas e planos corretos. Até setembro, apenas 15 nações apresentaram essas atualizações. Some-se a todo o quadro a desestabilização provocada pela guerra da Ucrânia, que deu um nó nos planos de transição energética de vários países...

 

O segundo apelido, Cop dos Vulneráveis, se deve ao anseio de que a conferência avance nas decisões sobre financiamento climático internacional em três direções: a) para processos de descarbonização da economia e seus efeitos; b) com investimento em infraestrutura para regiões em que há possibilidade de adaptação às mudanças climáticas; c) com recursos para mitigação de perdas e danos para os efeitos que já atingem populações e grupos mais vulneráveis.

Está claro que não basta apenas investir em processos de redução de emissões para combater as mudanças climáticas. É preciso abordar a adaptação de cidades e estruturas já para os eventos extremos que se anunciam. E para os impactos sobre os quais não há possibilidade de adaptação, como perda de biodiversidade e aumento do nível do mar que inundará permanentemente países insulares, são necessários fundos internacionais para perdas e danos.

Entre os mais vulneráveis à crise do clima estão as crianças, que representam um terço da população mundial e são as que irão sofrer por mais tempo as transformações globais com desastres naturais, escassez de alimentos e água e aumento da transmissão de doenças.

Em seminário recente, o Instituto Alana para a defesa da infância, que vai participar de um painel da Cop 27, divulgou alguns dados sobre os impactos já sentidos:
* 1 bilhão de crianças e adolescentes estão extremamente expostos aos impactos das mudanças climáticas;
* 10 milhões de crianças e adolescentes tiveram que se deslocar devido a choques climáticos em 2020;
* 93% das crianças de todo o mundo vivem em ambientes com níveis de poluição de ar acima do que é considerado seguro.