– Trecho tirado do artigo, “Democracia Economia” , de Thomaz Ferreira Jensen, no BOLETIM REDE DE CRISTÃOS, Ano XXX • Fevereiro 2022 • No 350
“O aprofundamento da desigualdade social em todo o mundo, notadamente após as crises financeiras de 2007 e da pandemia de covid-19 em curso, ampliou ainda mais o abismo existente entre a definição dos rumos da política econômica e a as necessidades da imensa maioria da população. A economia é dirigida pelo 1% mais rico e os restantes 99% da população apenas sentimos os efeitos destas decisões, que não visam mais que o lucro privado.
No Brasil, em que esta cisão já era abissal desde o governo Collor, vivemos hoje o paroxismo desta situação. Por exemplo, o Orçamento da União para 2022, como já comentamos nesse espaço, prevê despesas totais de R$ 4,8 trilhões, das quais R$ 1,6 trilhão estão sujeitas ao teto de gastos, ou seja, gastos com saúde, educação e combate à fome, por exemplo, foram apenas reajustadas em relação ao orçamento de 2021, pela correção da inflação.
O total de despesas não sujeitas ao teto, as chamadas despesas financeiras (rolagem e amortização da dívida pública, pagamento de juros) somam R$ 2,6 trilhões, ou 54,4% do orçamento da União para 2022. Este imenso montante não passou por nenhum debate público. É como se estas despesas fossem obrigatórias, intocáveis, inquestionáveis.
Uma das razões para a perenidade da ideia de democracia é justamente o fato de estar fundada na soberania popular e na distribuição equitativa do poder. Esta soberania pressupõe liberdade de escolha, o que apenas é possível se houver pluralidade de ideias. O que se vê por todos os lados é a distorção desta supremacia da vontade popular, quando não um elemento bem mais preocupante, que consiste na imposição de um pensamento único, de modo que a necessária pluralidade de propostas fique sufocada. Se antes a imposição da vontade de poucos se dava mediante a força, expediente que não sumiu totalmente do mapa do mundo, ela também se dá de forma intensa com a guerra de informações. As grandes empresas de comunicação decidem unilateralmente o que – e como – deve e não deve ser divulgado.
No Brasil, a política econômica vem sendo blindada do debate público desde o início do Plano Real, pelas empresas privadas de comunicação, que reiteraram por anos que economia se trata de tema técnico e que deve ser restrito aos economistas, notadamente aqueles que atendem às pautas editoriais destas empresas e seus anunciantes, especialmente os bancos e o agronegócio.”
Nota: Os itálicos foram colocados por nós, ISJR.