Trechos do artigo de Diego Junqueira- Repórter Brasil- | 22/03/22

Dados inéditos mostram que governo reduziu pela metade campanhas incentivando a imunização, em uma decisão que ajudou a levar o país à pior cobertura vacinal desde 1987; queda histórica abre caminho para o retorno de doenças já erradicadas, como a paralisia infantil.

“ O governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) cortou mais da metade dos gastos com propaganda da vacinação, segundo dados inéditos obtidos pela Repórter Brasil via Lei de Acesso à Informação.”

“O resultado? Uma queda histórica na imunização de crianças e adolescentes em 2021, com a pior cobertura vacinal em mais de 30 anos. ‘As coberturas de hoje estão no patamar de 1987. Isso é um retrocesso absurdo’, diz Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). E, juntamente com esse quadro considerado um ‘retrocesso absurdo’, vem o risco do retorno de doenças erradicadas há anos, como a paralisia infantil (poliomielite).” 

“‘Com a baixa vacinação, o temor hoje é o retorno de doenças consideradas sob controle, como a poliomielite. Nos últimos anos, o retrocesso já causou surtos de sarampo, febre amarela e coqueluche no Brasil, além de casos de difteria e doença meningocócica’, segundo Ballalai. Ela ressalta que a culpa não é de pais e mães, mas do Ministério da Saúde. ‘Não tem como criticar a população se o ministério não investe mais em comunicação [acerca das vacinas] do PNI’”.

“De 1980 a 1994, quando as doenças alvo das vacinas infantis causavam hospitalizações e mortes, como a pólio e o sarampo, as taxas de vacinação cresceram de forma constante, segundo dados da SBIm. Nos anos seguintes, o Brasil viveu um período de altas coberturas vacinais, até começarem a cair em 2016.”  

“‘A alavanca principal que leva a população a se vacinar é a percepção de risco. Por muitos anos, os brasileiros viam as doenças de perto e se preocupavam. Mas, aos poucos, essa memória começa a desaparecer, os índices de cobertura caem e os surtos acontecem’, diz a vice-presidente da SBIm.”

“Foi durante a gestão de Carla Domingues à frente do PNI que se identificou a queda na cobertura vacinal. Em razão disso, o programa decidiu aumentar os gastos com comunicação para mobilizar a sociedade. Os dados obtidos pela Repórter Brasil mostram que os investimentos dobraram em 2017 e 2018. E o impacto foi uma melhora dos índices naquele ano, diz a ex-coordenadora.”

“‘Quando identificamos a queda das coberturas, fizemos um trabalho gigantesco de mobilização da sociedade até conseguirmos reverter essa tendência em 2018, quando as taxas se recuperam. Infelizmente em 2019 e 2020 essa ação não teve continuidade, o que colaborou para que as coberturas vacinais despencassem novamente’, diz Domingues.”

Veja o texto na íntegra:  https://reporterbrasil.org.br/2022/03/com-pandemia-e-corte-de-verbas-de-propaganda-vacinacao-infantil-despenca-a-pior-nivel-em-3-decadas/