Você gostaria viver melhor? Esta pergunta parece tão normal, não é? Mas devemos nos questionar, melhor em quê? O Curso de Verão com o tema – Viver Bem a Vida em Plenitude confrontou o modelo de desenvolvimento de nossa sociedade com um outro modelo vivido milenarmente por diversos povos e culturas indígenas. Mais de 100 pessoas de sete Estados e do Distrito Federal se reuniram durante sete dias intensos de estudo, convivência e partilha.

Celebramos cada manhã com cantos animados e com a Palavra de Deus, em comunhão com cada pessoa e com a mãe terra. Uma equipe de liturgia nos animou com uma mística criativa e profunda. Houve três assessores – no primeiro dia o Professor da UFG Nildo Silva Viana nos ajudou a fazer a leitura da sociedade atual bem enraizada em nós, uma sociedade capitalista que cria produtores e consumidores. Tudo vira mercadoria, com concentração e centralização da riqueza sempre em menos mãos. Competição é visto como ‘natural’, mas o professor nos desafiou para nunca dizer que algo é para sempre, impossível de mudar!

Os outros assessores, Saulo Feitosa (assessor do Conselho Indigenista Missionário CIMI de Brasília) e Mercedes de Budallés Diez (Biblista), se apresentaram intercalando a perspectiva do Bem Viver nas narrativas cosmológicas ameríndias com a Palavra de Deus, destacando o livro de Eclesiastes e a vivencia de Jesus nos Evangelhos. Sumak Kawsay – na língua Quíchua, de Equador, o Bem Viver – busca o equilíbrio entre os seres humanos e os demais seres do universo, uma busca de complementaridade, respeito mútuo, novas relações, resistência ao sistema e ao consumo excessivo.

Uma das participantes do curso, Maira Claudineide de Lima, vem da comunidade de Jesus de Nazaré em Jardim Curitiba, Goiânia. Ela disse “o que mais me marcou foi a liturgia da manhã, a cada dia era mais bonita, mais emocionante”, e também lhe marcou a fala de Saulo “A ação da polícia contra as aldeias, isso é horrível, jogando bombas e a prisão daquela índia com o seu bebê...” referindo um caso atual que o Professor Saulo contou. Glória de Fátima, também de Jardim Curitiba, comentou “Ninguém sabe tudo, sempre estamos aprendendo algo e é nesse contexto que eu aprendi muito.”

Elena Kuhl, Irmã de São José de Rochester, e participante, também gostou do curso. “O projeto político do Bem Viver, quanto aos seus valores e ideologia, vai aproximando os valores do Reino de Deus apresentado por Jesus. Quanto à organização, o Bem Viver dificilmente seria implantado no mundo capitalista (individualista e consumista) em que vivemos, porque depende de mudança radical de nossas atitudes para incluir o bem comum, a partilha e todos os valores que leva a uma Vida Plena para todos os seres vivos. Um provérbio Zapista (México) diz “Não é rico quem tem mais, mas aquele que menos necessita.”

“Hoje, existe mais coisas boas do que coisas ruins”, comentou Nilza das Graças Viera, da comunidade de Jesus de Nazaré, Jardim Curitiba. Ela lembrou o estudo de Eclesiastes onde está escrito “Por que os tempos passados eram melhores que os de hoje? Não é a sabedoria que faz você levantar essa questão.” Também, de Ecl 9, 12 “O acúmulo traz desgraça” Nilza comentou que é verdade hoje, acumular traz angústias e tristezas, enquanto a partilha traz vida e alegria. “Tem que ver Deus em todos os lados.” Em cada Curso de Verão, Nilza traz mais uma pessoa da sua comunidade!

O Curso de Verão incluiu uma variedade de oficinas, trabalho em pequenos grupos com dança sagrada, contando histórias, música, yoga e leitura popular da bíblia. Uma tarde, experimentamos a vivência sem uso de dinheiro, cada participante trazendo coisas para trocar por outras coisas, sem uso de dinheiro! O Curso de Verão valeu uma experiência de crescimento nos valores do Reino de Deus, na vivência de comunhão, e respeito à diversidade.