Na escola que eu frequentava quando criança – no período equivalente à Educação Infantil – havia alguns animais como jabuti e coelhos, além de muitas árvores. De tudo isso, o que mais me encantava era a jabuticabeira. Grande e frondosa, ficava na entrada do pátio. Mas, só passei a admirá-la, depois de ver minha professora subindo entre seus galhos e enchendo uma caneca grande de alumínio com muitas bolinhas pretas. Ela chamava as crianças para perto da árvore e ensinava como comer as jabuticabas.


Desde então, passei a observar essa árvore, sempre à espera da época em que estaria carregada com a tal frutinha preta para me deliciar! Recordo de um dia ter dito em casa que queria comer jabuticaba. Meu pai voltou da feira com um saco cheio delas! Mas não era a mesma coisa! Afinal, como meu pai podia ter comprado algo que só tem naquela árvore da escola?

Hoje, penso que, na verdade, eu queria mais que deliciar-me com as jabuticabas. Eu queria ver minha professora subindo por entre os galhos e pensar que um dia também conseguiria fazer o mesmo. Queria a fruta daquela árvore que eu encontrava todos os dias e esperava ansiosa pelo momento em que as bolinhas pretas apareciam. Enfim, o que eu queria era bem mais que jabuticabas.

Aquela árvore da escola não é mais igual a outras cem mil árvores por aí. Antoine du Saint-Exupery, em seu famoso livro O pequeno Príncipe, fala um pouco sobre criar laços. É bem na passagem em que o príncipe dialoga com a raposa:

“Tu não és, para mim, senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo”.

No contato com a natureza, além de cativar e criar laços, as crianças passam a perceber seu entorno de maneira diferente.

Paul E. Knoop, na introdução do livro Vivências com a Natureza 1, de Joseph Cornell, diz que um esforço para manter as pessoas em contato com a natureza é indispensável no mundo de hoje, dominado pela superpopulação e alto consumo. Só assim seremos capazes de perceber nossos ritmos naturais, as mudanças das estações, sua beleza e seu mistério.

Foto: GuilhermeDentista/Pixabay

Veja foto do autora, Ana Carol Thomé

É pedagoga, especialista em psicomotricidade e educação lúdica. Participa de diversas formações sobre primeira infância, brincar e arte para crianças e coordena o programa Ser Criança é Natural (que dá nome a este blog), do Instituto Romã, que incentiva o contato das crianças com a natureza. Organiza a ação Doe Sentimentos e acredita no poder da infância e que o mundo pode ser melhor.

 

Vem do site: www.conexaoplaneta.com.br