Já se passaram 136 dias desde que o Hamas atacou os Kibutz Be’eri, Nir Oz e outros, brutalmente matando 1.200 israelenses e notícias recentes anunciam que houve mais de 30.000 palestinos mortos, a maioria mulheres e crianças e se calcula que haja mais 10 mil desaparecidos mortos nos escombros dos bombardeios de Israel na Faixa de Gaza. O mundo tem assistido perplexo com a máquina mortífera de Israel, que diz que está se defendendo, mas nunca diz “chega”.

No dia 18 de fevereiro, enquanto o Presidente Lula estava em Etiópia, ele deu uma entrevista e comentou o seguinte, "O que está acontecendo na Faixa Gaza não existe em nenhum outro momento histórico, aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus". Muitos de nós que vimos o vídeo desta fala percebemos que Lula expressou sua profunda indignação e revolta diante das cenas de milhares de palestinos mortos e feridos, acompanhado por cenas de total destruição da infraestrutura da Faixa de Gaza, os hospitais, escolas, templos, residências, comércios, empurrando quase 2 milhões de palestinos em acampamentos perto da fronteira com o Egito. Foram mortos centenas de pessoas, entre médicos e outros profissionais de saúde, jornalistas, socorristas da Cruz Vermelha e da ONU...

Logo o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu disse que a referência que Lula fez ao holocausto judeu foi um ato de antissemitismo e chamou Lula de Persona non grata em Israel.  

Desde então, houve muitas repercussões na mídia, em geral alegando que o Lula falou ao improviso e que não respeitou as regras da diplomacia internacional. As opiniões contrarias conseguiram muita cobertura pela imprensa. Por isso, trazemos algumas delas aqui, por o leitor considerar junto com as críticas.

“É fundamental esclarecer que denunciar o massacre perpetrado pelo exército de Israel, financiado pelos Estados Unidos, contra o povo palestino não tem qualquer relação com antissemitismo e menos ainda com uma interpretação bíblica dos fatos. É importante destacar que o atual Estado de Israel não guarda semelhança com o povo hebreu da Bíblia, que se identificaria mais com os palestinos do que com os israelitas de hoje.” - Marcelo Barros, OSB

Na terça-feira, 13 de fevereiro, o cardeal secretário de Estado do Vaticano Pietro Parolin, por ocasião do encontro anual para celebrar os Pactos de Latrão, Parolin, falando aos jornalistas, usou palavras inequívocas sobre o que está acontecendo em Gaza. Ele reiterou sua "condenação clara e irrestrita de qualquer tipo de antissemitismo", mas, ao mesmo tempo, reiterou seu "pedido para que o direito de defesa de Israel, que foi invocado para justificar essa operação, seja proporcional e, certamente, com 30 mil mortos, não é".

Para Arlene Clemesha, diretora do Centro de Estudos Árabes da USP, essa reação é uma tática de defesa utilizada por Israel para se proteger de ataques. "Era esperada a resposta de Netanyahu, a maneira de atuação da política do Estado de Israel tem sido acusar qualquer crítica que se faça à atuação do estado como antissemita. Essas comparações com o Holocausto são um dos pontos mais utilizados para atacar os oponentes. O que o Estado de Israel faz com a memória do Holocausto é instrumentalizar essa memória em benefício de suas políticas atuais", afirmou.

 

 "Lula assumiu uma posição política como o genocídio em Gaza. Há muito tempo se acumulam as denúncias contra Israel e isso está se normalizando. Lula subiu o tom para chamar a atenção e está num contexto favorável", avalia Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais da PUC-SP. A fala do presidente brasileiro aconteceu durante a 37ª Cúpula da União Africana.