Irmãs, Associadas e Associados, celebram juntos

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  Nestes últimos dias, 15 e 16 de março de 2024, nós Irmãs de São José de Rochester, Associadas e Associados em Goiânia, nos encontramos para refletir sobre a vida de São José, com textos do Papa Francisco e do Leonardo Boff. Dia após dia, José via Jesus crescer «em sabedoria, em estatura e em...
O CNDH recomenda equilíbrio na cobertura do conflito no Israel e o Hamas

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O Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) aprovou por unanimidade uma recomendação para a cobertura jornalística do conflito entre Israel e o Hamas que garanta maior diversidade de vozes e equilíbrio de fontes na cobertura do conflito. "Nós entendemos que é necessário, sim, que seja...
Fim da primeira semana do Sínodo em Roma

Fim da primeira semana do Sínodo em Roma

Os 35 grupos de trabalho do Sínodo começaram o seu trabalho na quinta-feira, 5 de outubro. Os grupos eram muito diversos, com pessoas de diferentes continentes. Nos quatro minutos atribuídos a cada participante, o primeiro passo foi apresentar-se, depois partilhar o caminho percorrido pela própria Igreja...
A Cúpula da Amazonia

A Cúpula da Amazonia

                                          A Cúpula da Amazônia, evento que reúne chefes de Estado de países amazônicos para discutir iniciativas para o desenvolvimento sustentável na região, teve início na terça-feira, 8 e segue até essa quarta-feira, 9 de agosto, data em que se celebra o dia internacional dos povos indígenas. Além do...
Raoni e lideranças indígenas cobram extinção da tese do marco temporal

Raoni e lideranças indígenas cobram extinção da tese do marco temporal

O “Chamado do Raoni” terminou na última 6ª feira (28/7), após uma semana de debates entre centenas de indígenas de todo o país. O principal resultado do encontro – promovido pelo cacique Kayapó Raoni Metuktire, de 93 anos, referência histórica indígena e que representou os Povos Originários na posse...
Brasil, Indonésia e Congo se unem para proteger as florestas tropicais

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Representantes dos governos do Brasil, Indonésia e da República Democrática do Congo assinaram na segunda-feira (14/11) um pacto de cooperação para preservar as três maiores florestas tropicais do mundo. O anúncio foi feito em comunicado pelo ministro coordenador de Assuntos Marítimos e de...
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Brasil, Indonésia e Congo se unem para proteger as florestas tropicais
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O vazio básico do documento da ONU para a Rio+20 reside numa completa ausência de uma nova narrativa ou de uma nova cosmologia que poderia garantir a esperança de um "futuro que queremos” lema do grande encontro. Assim como está, nega qualquer futuro promissor.

Para seus formuladores, o futuro depende da economia, pouco importa o adjetivo que se lhe agregue: sustentável ou verde. Especialmente a economia verde opera o grande assalto ao último reduto da natureza: transformar em mercadoria e colocar preço àquilo que é comum, natural, vital e insubstituível para a vida como a água, solos, fertilidade, florestas, genes etc. O que pertence à vida é sagrado e não pode ir para o mercado dos negócios. Mas está indo, sob o imperativo categórico: apropria-te de tudo, faça comércio com tudo , especialmente com a natureza e com seus bens e serviços.

Eis aqui o supremo egocentrismo e a arrogância dos seres humanos, chamado também de antropocentrismo. Estes veem a Terra como um armazém de recursos só para eles, sem se dar conta de que não somos os únicos a habitar a Terra nem somos seus proprietários; não nos sentimos parte da natureza, mas fora e acima dela como seus "mestres e donos”. Esquecemos, entretanto, que existe toda a comunidade de vida visível (5% da biosfera) e os quintilhões de quintilhões de microrganismos invisíveis (95%) que garantem a vitalidade e fecundidade da Terra. Todos estes pertencem ao condomínio Terra e têm direito de viver e conviver conosco. Sem as relações de interdependência com eles, sequer poderíamos existir. O documento desconsidera tudo isso. Podemos então dizer: Com ele não há salvação. Ele abre o caminho para o abismo. Enquanto tivermos tempo, urge evitá-lo.

Tal vazio se deriva da velha narrativa ou cosmologia. Por narrativa ou cosmologia entendemos a visão do mundo que subjaz às ideias, às práticas, aos hábitos e aos sonhos de uma sociedade. Por ela se procura explicar a origem, a evolução e o propósito do universo, da história e o lugar do ser humano.

A nossa atual é a narrativa ou a cosmologia da conquista do mundo em vista do progresso e do crescimento ilimitado. Caracteriza-se por ser mecanicista, determinística, atomística e reducionista. Por força desta narrativa 20% da população mundial controla e consome 80% de todos os recursos naturais; metade das grandes florestas foram destruídas, 65% das terras agricultáveis, perdidas, cerca de 27 a cem mil espécies de seres vivos desaparecem por ano (Wilson) e mais de mil agentes químicos sintéticos, a maioria tóxicos, são lançados na natureza. Construímos armas de destruição em massa, capazes de eliminar toda vida humana. O efeito final é o desequilíbrio do sistema-Terra que se expressa pelo aquecimento global. Com os gases já acumulados, até 2035 fatalmente se chegará a 3-4 graus Celsius, o que tornará a vida, assim como a conhecemos praticamente impossível.

A atual crise econômico-financeira que mergulha nações inteiras na miséria nos fazem perder a percepção do risco e conspiram contra qualquer mudança necessária de rumo.

Em contraposição, surge a narrativa ou a cosmologia do cuidado e da responsabilidade universal, potencialmente salvadora. Ela ganhou sua melhor expressão na Carta da Terra **. Situa nossa realidade dentro da cosmogênese, aquele imenso processo de evolução que se iniciou há 13,7 bilhões de anos. O universo está continuamente se expandindo, se auto-organizando e se autocriando. Nele tudo é relação em redes e nada existe fora desta relação. Por isso todos os seres são interdependentes e colaboram entre si para garantirem o equilíbrio de todos os fatores. Missão humana reside em cuidar e manter essa harmonia sinfônica. Precisamos produzir, não para a acumulação e enriquecimento privado mas para o suficiente e decente para todos, respeitando os limites e ciclos da natureza.

Por detrás de todos os seres atua a Energia de fundo que deu origem e sustenta o universo permitindo emergências novas. A mais espetacular delas é a Terra viva e os humanos como a porção consciente dela, com a missão de cuidá-la e de responsabilizar-se por ela.

Esta nova narrativa garante "o futuro que queremos”. Do contrário seremos empurrados fatalmente ao caos coletivo com consequências funestas. Ela se revela inspiradora. Ao invés de fazer negócios com a natureza, nos colocamos no seio dela em profunda sintonia e sinergia, respeitando seus limites e buscando o "bem viver" que é a harmonia entre todos e com a mãe Terra. Característica desta nova cosmologia é o cuidado no lugar da dominação, o reconhecimento do valor intrínseco de cada ser e não sua mera utilização humana, o respeito por toda a vida e dos direitos da natureza e não sua exploração e a articulação da justiça ecológica com a social.

Esta narrativa está mais de acordo com as reais necessidades humanas e com a lógica do próprio universo. Se o documento Rio+20 a adotasse, como pano de fundo, criar-se-ia a oportunidade de uma civilização planetária na qual o cuidado, a cooperação, o amor, o respeito, a alegria e espiritualidade ganhariam centralidade. Tal opção apontaria, não para o abismo, mas para o "o futuro que queremos”: uma biocivilização da boa esperança.

** Para ler a Carta da Terra, volte a cima nesta página, click na Justiça... nossas bandeiras de luta... Carta da Terra

[Leonardo Boff é autor com Mark Hathaway de O Tao da Libertação: a ecologia da transformação, Vozes 2012].

Leonardo Boff
Teólogo, filósofo e escritor
Publicada no site Adital 31/05/2012